segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Obrigado Zé Nuno

Dar alma à saúde
José Nuno é o coordenador nacional das capelanias hospitalares.
O hospital é o meu lugar. Vivi aqui sete anos, algumas semanas a tempo inteiro, sem sair. Acabei por ter problemas de saúde e fui aconselhado a residir fora, mas este continua a ser o meu lugar.
Vim cheio de medo. Trabalhava com jovens. Isto foi uma reviravolta. Aqui, as relações são intensas e percebe-se a relatividade de tudo. Tornei-me mais compassivo com quem sofre e mais exigente com quem não cumpre, adepto feroz da felicidade.
O ecumenismo no hospital é fundamental. Cheguei há dez anos e organizamos celebra­ções ecuménicas há nove. Num país de maioria católica, passar por uma experiência destas numa casa colonizada pela Igreja dominante é um exílio ainda maior.
A importância da espiritualidade na saúde é um dado adquirido. Apoiar as pessoas doentes é a primeira função de um capelão, mas não é a única. Ser capelão é ter a possibilidade de intervir na cultura de uma casa que não pode perder a consciência da sua finalidade, que é servir as pessoas na sua integridade. Este também é um lugar de esperança.
Agnus Dei ou a ovelha Dolly foi o tema que escolhi para a minha tese porque queria abordar o confronto entre o amor transcendente e o poder tecnológico. Mas a experiência no São João conduziu-me noutra direcção. Em vez da tese de doutor acabei por fazer um trabalho de pastor. Estudei a transferência da morte. Concluí que mais de 60% das pessoas já morre no hospital. Interessei-me pela bioética porque tinha de entender a linguagem deste meio.
Assino só o meu nome de baptismo. Foi esse o momento decisivo da minha vida. Nasci em 1964, em Gondomar, numa família católica. Desde cedo tive problemas de sofrimento graves. Tenho uma patologia de coluna complicada.
Não sei porque quis ser padre. Sei porque me ordenei e porque continuo padre. Sou padre por amor e sou padre para amar.
Estava em Boston no 11 de Setembro. Vi em directo a retirada do corpo do capelão dos bombeiros de Nova Iorque dos escombros pelos seus homens. Entrou nas Torres Gémeas porque havia bombeiros a morrer lá dentro e queria acompanhá-los. Isto define o que é ser capelão.

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