terça-feira, 15 de setembro de 2009

Novo ano em Setembro

Para muitos de nós, Setembro é um mês de recomeço. Acabaram as férias e voltamos à rotina do resto do ano. Para uns, com entusiasmo e desejo de retomar aquilo que gosta de fazer e de rever amigos. Para outros, a expectativa de um ano diferente, com pessoas novas e novos desafios. Para outros ainda, a perspectiva é não mais do que voltar ao cansaço da rotina. Mas não é assim para toda a gente… ou melhor, nem sempre foi esta a sensação dominante. Para muita gente, Setembro é o mês das vindimas (se calhar há uns anos era-o para uma parte mais representativa da população). Eu não me acho "do antigamente" mas, como estudei agronomia, talvez esteja mais atento a esta particularidade de Setembro. Vindimas equivale a muito trabalho, é verdade. Mas é trabalho feito no meio de festa. É quase o fim de um ciclo. Depois dos dias frios e chuvosos de Inverno em que se começou a podar a vinha, depois de a cavar e fertilizar e, com tempo mais quente, a tratar contra as doenças, chegou a altura de finalmente apanhar os frutos pelos quais se investiu tanto tempo e esforço. Em todo este investimento, houve um risco sempre presente – uma trovoada, granizo, ou chuva em alturas sensíveis podem comprometer todo o resultado final. Mas a vindima já é um investimento diferente, pois o fruto já está à vista. Por isso é que é tempo de festa – vindima-se com alegria, com amigos, convidam-se os vizinhos, come-se e bebe-se bem.Dizia que é quase o fim de um ciclo porque depois das uvas colhidas ainda falta extrair o seu sumo e fermentá-lo. É com razão que diz o ditado que até ao lavar dos cestos é vindima. Só depois de tudo isto é que nos podemos regalar a beber e a saborear o resultado de tanto trabalho ao longo de um ano inteiro. Só conhecendo o que está por trás é que percebemos que toda a gente que faça o seu próprio vinho tenha tanto gosto em bebê-lo e em oferecê-lo aos amigos. E estes, se compreendem tudo o que está por trás, têm um enorme gosto em prová-lo, mesmo que seja uma verdadeira zurrapa aos olhos dos “entendidos”. Mas quando se trata de dar valor ao trabalho, estes “entendidos” não entendem nada! Cada vez menos gente está por dentro desta realidade, mas escrevo este editorial como um desafio a que encaremos o trabalho que agora recomeçamos como parte de um ciclo como o do vinho. Às vezes é um investimento muito arriscado, outras vezes com os frutos já à vista. Umas vezes é um trabalho duro e solitário, outras vezes no meio de festa com os amigos. Há quem perceba o que está por trás dele e lhe dê valor, há quem não entenda nada do que fazemos. O importante é que cada um de nós saiba por que é que trabalha. É este o significado do vinho que utilizamos na missa. É o fruto do trabalho de todos nós. E é isso que, por um lado agradecemos a Deus, e por outro, Lhe oferecemos. E assim como ninguém faz vinho para o beber sozinho, que também ninguém trabalhe unicamente para o seu bem, mas para o bem de todos.
Frederico Lemos

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