quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

É OUTRA VEZ NOVEMBRO

É OUTRA VEZ NOVEMBRO
Novembro 17, 2009
1. O tempo em que vamos parece o de Thomas Hobbes, quando, em 1651, deixou escrito no seu famoso Leviatã, que «tudo o que existe tem três dimensões, a saber, comprimento, largura e altura, e aquilo que não tem três dimensões não existe nem está em parte alguma». Com este procedimento, Hobbes, e alguns dos nossos contemporâneos com ele, reduzem o homem a um objecto, sem alma nem emoções, sem alegria nem tristeza, sem encanto e sem sonho, sem Deus. É um homem à medida do cadáver, e um mundo à medida do cemitério, tudo formatado e tresandando a amoníaco. É o mundo do «dois vezes dois são quatro», de que fala Dostoievski nos seus Cadernos do Subterrâneo, acrescentando logo, em jeito de confissão: «O homem sempre teve medo deste dois vezes dois são quatro, e eu também tenho».
2. Na esteira do grande escritor russo, vale a pena mostrar aqui um extracto das recentes e densas análises de O Método, de Edgar Morin: «O dogma da simplificação que contém a morte continua a impor-se por aí como verdade científica (…), e continua a rejeitar para fora do saber aquilo que resiste ao seu controlo. E os defensores deste dogma – continua Edgar Morin – vêem-nos como miseráveis, pedintes, esgadanhando os dejectos das suas lixeiras». E acrescenta depois de forma contundente: «Num sentido, eles têm razão: nós queremos recuperar e reciclar os dejectos que a sua ciência expulsa: não apenas o incerto, o impreciso, o ambíguo, o paradoxal, a contradição, mas também o ser, a existência, o indivíduo, o sujeito. Julgam deitar fora os excrementos do saber: não sabem que atiram para o lixo o ouro do tempo».
3. Nada de novo. Seis séculos a. C., já o filósofo grego Heraclito deixava escrito, no seu Fragmento 9, que «Os burros preferem a palha ao ouro». E já no nosso tempo, Martin Heidegger, debruçando-se, nos seus Ensaios e Conferências, sobre a referida sentença de Heraclito, pôde lê-la para nós, explicitando que este «ouro» depreciado é «o brilho não visto da claridade, e não se deixa agarrar, porque ele próprio não agarra», porque não é do domínio da posse, não obedece à regra das três dimensões.
4. Anda hoje outra vez por aí muito badalada a cultura das três dimensões. E é nesse sentido que dos hospitais se pretende retirar os capelães, porque aos doentes, reduzidos a três dimensões, bastam os cuidados técnicos que lhes são prestados por técnicos, da mesma forma que das escolas se pretende retirar os crucifixos, porque às crianças basta o alfabeto, a tabuada e a fita métrica, e a Igreja deve ser marginalizada, silenciada e banida como verdadeira fonte de ignorância, dado que o que diz e faz está para além das três dimensões, e já se decretou que o que não tem três dimensões não existe nem está em parte alguma.
5. Mas Novembro entra-nos outra vez em casa. E, não se sabe bem porquê, também os defensores da cartilha das três dimensões aparecem a visitar o cemitério e a depor flores nos túmulos dos seus familiares e amigos. E até, muito provavelmente, entrarão em alguma Igreja. Novembro é habitado por um silêncio gritante. Um silêncio que nunca se calou. E as flores, carregadas de sentido, mas silentes, são sempre as últimas a deixar o cemitério. Sim, porque, que se saiba, o sentido nunca fez barulho, nunca faz barulho. Um texto, por exemplo, é letra e som. Mas quando o interpretamos, não é a letra e o som que captamos, mas o sentido que habita essa letra e esse som. Afinal, por mais esforço que se faça, não é possível reduzir o homem a três dimensões. Há sempre uma flor ou uma lágrima, cujo sentido se chama amor, e que não é redutível a três dimensões.
6. Novembro lembra-nos outra vez que passamos muito tempo e que talvez gastemos até muitas energias a deitar para o lixo o ouro do tempo! Lembra-te, meu irmão de Novembro, que és pó e amor. E o amor não volta ao pó.
António Couto

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Parabéns Bagão

António Bagão Félix>>
Público, 20091024>>
Não sou apreciador da escrita de José Saramago, mas não desconsidero a> sua obra literária.>> Como autor e cidadão, José Saramago tem todo o direito de exprimir as> suas ideias sobre tudo e mais alguma coisa.>> E, naturalmente, de expressar com clareza, frontalidade e liberdade o> seu ateísmo militante. Seja nos seus livros, seja nos seus ditos.>> Mas para se ser respeitado nas suas opiniões, é preciso ter-se a> inteligência, a razoabilidade e a prudência de se dar ao respeito.>> Uma coisa é Saramago defender o seu pensamento livre. Outra é o modo> como o faz. Com acidez, arrogância, intolerância e sectarismo> extremos.>> Pretensamente auto-dotado de uma superioridade intelectual e moral> desde que foi galardoado com o Nobel acha-se pateticamente acima dos> outros. Por isso, não argumenta, agride. Não opina, sentencia. Não> confronta, insulta. Não esclarece, obscurece. Não convoca, provoca.> Não fundamenta, opta pelo fundamentalismo.>> O curioso é que, depois de tudo o que diz e escreve com a liberdade de> que, aliás, felizmente dispõe, estranha as posições de quem o> confronta. Nada que me espante, sabendo-se do modo como tratava os> "delitos de opinião", por exemplo, quando foi director de um jornal.>> José Saramago é um paradoxo: é religiosamente anti-religioso. O seu> proselitismo é a expressão de uma nova moda religiosa: o ateísmo> pretensamente humanista.>> Saramago acaba de editar mais um livro e aproveita a ocasião para um> diktat gratuito tão ao seu gosto pessoal. A Deus tudo culpa, a Deus> chama tudo o que de mal possa haver, ao mesmo tempo que diz não> existir. Em que ficamos?>> A Bíblia, para ele, é um manual de maus costumes e um catálogo de> crueldades, num recorrente certificado de menoridade antropológica do> próprio homem. Não percebe que a Bíblia (e sobretudo o Antigo> Testamento) é também a história da condição humana feita de luz e de> sombras, do bem e do mal que coexistem por conta da liberdade humana.> Deus não nos fez robots. Logo a seguir a Caim e Abel, Deus diz "Meu> espírito não se responsabilizará indefinidamente pelo homem" (Génesis> 6,3).>> Saramago olha para a Bíblia e interpreta-a rudemente à letra, sem> contextualização, como se estivesse a ser escrita agora. Só lhe falta> um Deus a comunicar por telemóvel.>> Saramago odeia visceral e mefistofelicamente a ideia de Deus e dos> Livros Sagrados. Está no seu direito. Mas revê-se no estalinismo, nos> seus gulags e pogroms, para ele, por certo, ícones dos bons costumes e> das boas práticas.>> Saramago é um incompreendido. Nega um Deus (que, apesar de não> existir, é a causa de todos os males.) que, todavia, não é capaz de> esquecer. Deus não existe mas não lhe sai do pensamento. Estranho, não> é? À conta deste pesadelo, decreta impositivamente um atestado de> quase insanidade sobre os que, para si incompreensivelmente, crêem em> Deus. Saramago procura chamar à realidade milhões e milhões de pessoas> que, ao longo dos tempos, vivem nas trevas, sem inteligência e> discernimento, manipuladas por um Deus menor. Cautelosamente, o Deus> menor da Bíblia que não o do Corão .>> Enquanto católico, não sou nem mais nem menos pessoa do que Saramago.> Mas tenho o direito à defesa dos valores em que acredito. Não me> revejo nos arautos da atitude política e religiosamente correcta que,> com calculista "respeitinho" pelo Nobel, se remetem a uma espécie de> coligação do silêncio. Como também não perfilho a ideia da indiferença> ou da contrafacção da religião. A fé é um acto de liberdade porque sem> liberdade não haveria qualquer mérito em crer.>> Que esta polémica de puro marketing tenha pelo menos a vantagem de> levar mais cristãos a ler ou reler a Bíblia. Só por isso agradeço a> Saramago.>> Quanto ao resto, a publicidade não é uma medida divina. Deus é> misericordioso e perdoa a Saramago.>>

domingo, 1 de novembro de 2009

Altar do Santíssimo restaurado e móvel da sacristia da Igreja matriz de Sambade
















Finalmente o altar onde ficará o Santíssimo Sacramento e também alguns móveis da sacristia da Igreja matriz de Sambade froam restaurados.





Naturamente que sem a ajuda dos paroquianos de Samaba de e outros amigos não seria possível esta empreitada.





Aqui vão algumas imagens da Igreja mais bela do concelho de Alfândega da Fé

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

José Tolentino Mendonça - Saramago

José Saramago (JS) - Eu chamei "livro dos disparates" não à Bíblia, mas a um versículo de uma carta aos hebreus, que está na contracapa e que também serve de epígrafe ao livro. Em toda a Bíblia, depois do assassinato de Abel, não se volta a falar de Caim. Não se sabe porquê, nessa carta aos hebreus há uma referência a Caim e que é completamente absurda e que me permiti chamar-lhe disparate. "Pela fé" - só estas duas palavras dariam para uma larga discussão. "Pela fé, Abel ofereceu a Deus um sacrifício melhor do que o de Caim. Por causa da sua fé, Deus considerou-o seu amigo, etc..". Há alguém capaz de me explicar, em termos racionais e humanos, para que a gente entenda, o que isto quer dizer? É absolutamente incrível!
José Tolentino de Mendonça (JTM)- A tradição, durante séculos, colocou-a no interior das cartas paulinas. Sabe-se, agora, que é de um autor posterior a São Paulo, embora seja um texto do Novo Testamento e com uma teologia admirável.
JS - A teologia admirável atreveu-se a dizer coisas tão impossíveis de aceitar como afirmar que Deus considerou Abel seu amigo. O que é isto? Estamos a jogar com as palavras? Como é que sabemos isso? Quem é que registou? Quando? Como? Onde? Abel e Caim sacrificaram a Deus o que tinham. O pobre Caim, se me permitem que chame pobre a um assassino, ofereceu também o que tinha. Deus desprezou o sacrifício de Caim. Aí, começa tudo: o ciúme nasceu aí, o rancor, a incompreensão, porque Caim não percebe que Deus o rejeite. Isto é um disparate lógico, o que me leva a dizer que este texto faria boa figura num livro de disparates. Mas não chamo à Bíblia um livro de disparates.
JTM - Não encaro esta conversa como um duelo ou sequer como um confronto. Este é um território onde a humildade é extraordinariamente necessária. No fundo, o não-crente e o crente têm ambos as mãos vazias, ainda que de forma diferente. Ambos são buscadores, procuradores. A fé nasce de uma interrogação, de uma abertura à revelação de Deus e do irmão. Tenho o maior apreço pela pessoa de José Saramago e pelo seu trabalho. Um grande criador é um dom extraordinário. E todos, de alguma forma, somos devedores a essa arte humaníssima, artesanal, extraordinariamente solitária e funda, que é a arte de um contador de histórias, de um escritor. Tenho o maior respeito, também, pelo interesse que José Saramago manifesta pelo texto bíblico. É, sem dúvida, dos autores portugueses, dos que mais se interessa, mais convive e mais procura o texto bíblico. Às vezes de uma forma consciente, num confronto e numa luta corpo-a-corpo, como no caso do "Evangelho Segundo Jesus Cristo", ou, agora, em "Caim", onde há luta forte com o texto bíblico. Outras vezes de forma implícita. E às vezes num certo tom, no seu português maravilhoso e inesquecível, que até tem um tom e uma respiração bíblicas, no sentido de um certo tom cosmogónico que, por vezes, a sua narrativa tem.
Há duas coisas que é preciso distinguir. Uma, é a obra literária, que agora foi lançada; outra, é o hipertexto: aquelas declarações de José Saramago em Penafiel, no lançamento do livro, e que acabaram por criar um acontecimento mediático. Sobre isso, algumas pessoas da Igreja e de outras confissões religiosas manifestaram-se, com toda a legitimidade, porque vivemos numa sociedade aberta e de liberdade. São leituras de uma declaração muito virulenta de José Saramago em relação à Bíblia e ao fenómeno religioso. Foi uma declaração nada consensual, e por isso são mais que expectáveis as reacções. Atacar a Bíblia desta maneira, tratá-la como uma coisa que podemos dispensar, e as palavras, com a gravidade com que foram ditas, é alguma coisa que nos enche de perplexidade. Porque a Bíblia é um livro de fé. É inegável que ao longo de séculos tem sido uma fonte de bem, uma fonte de ânimo na aventura humana e uma fonte de criatividade espantosa. A Bíblia é também um grande código da nossa civilização. Claro que podemos criticar esse código, mas um grande homem de cultura, mesmo agnóstico ou ateu, por amor a Bach, por amor a Mozart, a John Steinbeck, a O'Connor, a Faulkner, a Ruy Belo, a Maria Gabriela Llansol, a José Saramago, tem de ter este livro em sua casa.
JS - Eu não preciso de ter, porque em minha casa tenho sete ou oito exemplares. Desde uma Bíblia espanhola do século XVII ou XVIII, até uma Bíblia que me foi oferecida numa Feira do Livro, há três ou quatro anos, em português corrente. Até posso estar de acordo consigo quando diz que na minha prosa e estilo há uma ressonância, uma música que pode ser relacionado com a música, o ritmo, o sentido da pausa, o sentido expositivo, que se encontra na Bíblia. Não nego. Outra das minhas grandes influências, já o disse, é o padre António Vieira, cujos sermões li e reli - algumas vezes terei treslido... Mas acho que terá sido necessário um grande esforço para converter a Bíblia num livro de fé.
JTM - Mas a Bíblia é uma biblioteca. Tem muitos livros. Acha que foi difícil tornar um livro de fé o livro do profeta Isaías?
JS - Não! Como não acho impossível o livro de Job.
JTM - Ou os Salmos. Ou os Livros da Sabedoria ou das Origens.
JS - Tudo isso é certo. Mas ponha-se agora, por um ou dois minutos, no meu lugar. Tomar o Caim como personagem central de uma história não tem nada de gratuito. A questão do Caim é uma velha questão que eu tenho com a Bíblia.
JTM - Mas leu alguns comentários sobre a figura de Caim? Para mim, como exegeta, um dos textos mais admiráveis sobre Caim é o texto de Paul Ricoeur, que faz uma interpretação que, penso, o próprio Saramago achará extraordinária. Ele lê o episódio de Abel e Caim como a história e a construção da fraternidade. O Génesis é uma meditação sapiencial sobre a condição humana. O que são, afinal, os mitos? São meditações sobre a vida. Os autores bíblicos são contadores de histórias, que repassam a vida com um olhar crente, se quisermos. Depois da Bíblia, a fraternidade já não está dependente dos laços do sangue, mas de uma decisão ética. Eu não sou irmão do outro simplesmente porque sou do seu sangue; sou irmão dele se escolher ser seu irmão.
JS - Isso é forçar um pouco as histórias... O que teria acontecido se Deus tivesse aceite o sacrifício de Caim, como aceitou o de Abel? Porque é que Deus recusou o sacrifício de Caim? Esta pergunta não tem resposta.
JTM - As grandes experiências humanas são experiências de escolha com a qual temos de lidar. Veja: porque ama a Pilar e não uma outra mulher?
JS - Eu cá sei!
JTM - Sabe, mas o amor é um lugar sem resposta, sem lógica.
JS - A literatura e a lógica não são incompatíveis!
JTM - Não são incompatíveis, mas não é uma lógica matemática.
JS - É absurdo que Deus tenha recusado o sacrifício de Caim. Não há palavras, não há exegeses ou leituras simbólicas que o justifiquem. Temos aí um obstáculo sério: é que não podemos fazer perguntas aos redactores da Bíblia. Gostaria de saber quais eram as intenções do autor.
JTM - Mas há um sentido imanente no texto.
JS - A Bíblia está traduzida em quase todas as línguas.
JTM - Mas a exegese é feita sobre os textos originais. Eu trabalho sobre o hebraico e sobre o grego.
JS - Textos originais sobre os quais eu não sei nada.
JTM - Não sabe porque não tem investigado.
JS - Não! Simplesmente porque a minha vida é outra.
JTM - Todo o texto bíblico tem em si um densidade inesgotável. É um livro que nunca se acaba de ler. Depois de mil leituras, o texto vence sempre. Este texto é muito importante. Como a carta aos hebreus, que acho injusto que lhe chame "livro dos disparates".
JS - Tenha paciência: eu não lhe chamei isso. O que eu digo, e repito, é que este texto concreto, tal como está redigido, merecia ser incluído num livro dos disparates universais. Esta frase, qualquer pessoa achará que é uma frase completamente disparatada.
JTM - Mas a fé é um paradoxo. Eu não diria um disparate. Querer tratar Deus com lógica é chegar a um beco sem saída.
JS - Então se o beco não tem saída, voltemos para trás.
JTM - Mas acha que pode entender a condição humana eliminando o paradoxo?
JS - Não, não.
JTM - Acha que as grandes emoções, as grandes janelas interiores que o homem traz se justificam apenas pela lógica?
JS - Mas os meus livros estão cheios disso. A questão é que eu não escrevi nenhum livro sagrado! Esse é o problema.
JTM - Sabe que numa sociedade secularizada o José Saramago é uma espécie de referência sagrada. Um homem que vende 200 mil exemplares e tem uma cobertura global... Hoje, o sagrado tem outras formas. E, no fundo, a sua pretensão é também uma pretensão sagrada.
JS - É possível. Aliás, uma das minhas frases preferidas é que "para fazer um ateu como eu, é necessário um altíssimo grau de religiosidade".
JTM - Sem dúvida!
JS - Como é uma frase minha, o que o teólogo Juan José Tamayo escreveu recentemente no diário "El País": "Deus é o silêncio do universo, e o homem o grito que dá sentido a esse silêncio". Eu não sou o tipo de ateu ferrabrás, armado de um chuço para deitar abaixo aquilo que eu não posso deitar abaixo, que é a crença, a fé, na qual eu não toco - na condição que não façam afirmações tão ilógicas como esta.
JTM - Mas podíamos tirar qualquer afirmação de um dos seus livros e colocá-la no livro dos paradoxos universais.
JS - Não me importaria nada. Mas ficaria muito desgostoso se incluíssem uma frase minha no livro dos disparates. A Igreja insiste em que há que fazer uma leitura simbólica dos textos bíblicos. Os crentes e leitores da Bíblia estão instruídos, educados, treinados, manipulados para aceitar aquilo que...
JTM - Porque diz manipulados?
JS - Porque é assim. A palavra é essa. Quer outra palavra? Eu dou-lha.
JTM - É muito importante perceber que os cristãos são criados por liberdade, por amor à liberdade.
JS - À liberdade? Mas o que é que a história da Igreja, e do catolicismo em particular, tem que ver com a liberdade?
JTM - Tem tudo a ver com a liberdade.
JS - Ai sim? Curioso!
JTM - Foi para a liberdade que Cristo nos libertou, afirmou um homem como Paulo de Tarso.
JS - Deixe Cristo em paz!
JTM - Mas esse é o seu erro de base. Deixe-me falar, para voltar à história de Caim e Abel. A Bíblia, precisamente para ilustrar a liberdade, coloca a escolha dos filhos mais novos - Abel, mas também uma galeria imensa de filhos mais novos, que são os preferidos em relação ao poder estabelecido socialmente pelo mais velho. Todo o direito e a lei estão do lado do mais velho. E, contudo, Deus escolhe o mais pequeno. Deus escolhe o último, a vítima, aquele que não tem voz nem vez, o que não é protagonista da História, para ser protagonista de uma história. Tudo isto é uma convulsão social. A Bíblia é um texto inquieto. Se escrutarmos a Bíblia a partir de um raciocínio lógico, claro que vamos encontrar imensos nós cegos, coisas sem resposta. Mas a nossa vida é assim. A história de Abel e Caim é a história desta inquietação sem resposta que a experiência do mal e do bem é na nossa vida. Não é verdade que na Bíblia nunca mais se volte a falar de Abel. Jesus identifica-se muito com a figura de Abel. A Bíblia identifica-se com a figura daqueles que na história são as vítimas. Por isso, dizer que a Bíblia é uma espécie de livro que reúne toda a crueldade do mundo, é dizer uma coisa ao lado do que verdadeiramente é. No seu espírito profundo, a Bíblia é um manual de liberdade, um livro de perguntas. Por muito que lhe custe, José Saramago, quero dizer-lhe que o cristianismo é uma aventura de liberdade.
JS - A mim, o que me vale, meu caro Tolentino, é que já não há fogueiras em São Domingos.
JTM - Não vamos falar das fogueiras, porque infelizmente o fumo das fogueiras enche a história de todos os tempos. Nós estamos aqui, dois homens, a falar no século XXI. E é com a verdade do que vivemos e fazemos que nos temos de encontrar. Aqueles que pensam que são isentos do mal é que me metem medo!
JS - O cristianismo uma aventura de liberdade!? Dizer isso com os albigenses, as cruzadas, o santo ofício, as masmorras da inquisição, as fogueiras a arder e tudo isso...
JTM - Esquece que no tempo da Inquisição havia santos. Nos tempos dos albigenses e das masmorras não deixou o cristianismo de ser uma história de liberdade e humanidade. Você tem uma visão parcial do cristianismo!
JS - Não tenho.
JTM - Como leu o facto do papa João Paulo II ter pedido perdão...
JS - Não sou leitor do papa João Paulo II!
JTM - Não, mas soube, concerteza. Não pode escapar a esta questão. Porque lhe custa reconhecer que um Papa pode ter um gesto humanamente admirável? Porque lhe custa? Não cai do pedestal.
JS - Pontualmente não me custará nada reconhecer algo que de bom, de perfeito, de belo, Papa A, B, C ou D tenha feito.
JTM - Mas então diga o que achou do Papa João Paulo II ter pedido perdão pelos crimes e erros do passado, feitos em nome do cristianismo e da fé? O que acha desse gesto?
JS - Até agora, que eu saiba, deixaram no rol do esquecimento, por exemplo, uma figura como o Giordano Bruno. Porquê? Perdoou mais ou menos a Galileu. Mas Giordano Bruno foi levado à fogueira com um pedaço de madeira fixado na boca.
JTM - Mas o Giordano Bruno era um crente!
JS - É isso que a Igreja não suporta: quer crentes, sim, mas disciplinados.
JTM - Não é verdade. Dentro do Cristianismo, há muitos cristianismos.
JS - O rebanho que vai a Fátima é o que a Igreja quer!
JTM - Não sejamos generalistas, porque entre os milhares de pessoas que vão a Fátima há-de haver quem vá com um espírito de sinceridade e liberdade que nós nunca teremos. Não julguemos!
JS - Não perca tempo a dizer isso, porque eu sei que isso é assim, e respeito a crença e a fé.
JTM - A fé dos simples.
JS - Eu não toco nisso. O meu objectivo é outro: a Igreja como instituição de domínio, como poder, como castradora de algumas das virtudes naturais do homem.
JTM - Mas essa é uma posição, um olhar demasiado ideológico. A igreja não é assim!
JS - Mas porquê demasiado ideológico? Eu sou o único que tem ideologia? Você não tem?
JTM - Tenho! Tenho a ideologia e a pretensão cristã.
JS - Então por que se fala da minha?
JTM - Eu não o acuso de dominador ou de senhor do mundo.
JS - Mas eu também não o acuso a si. Mas posso acusar a instituição a que pertence.
JTM - Mas em que bases?
JS - A história do papado é algo de terrível, de simplesmente tenebroso. E você sabe-o perfeitamente.
JTM - O terrível da história, a experiência do mal e da ferida, está em todas as vidas. Não há nenhuma isenta. Não há vidas e instituições que não tenham sombra. Essa ideia que é preciso um manipulador por trás para se entender a Bíblia é uma ideia peregrina.
JS - Quando o manipulador não está imediatamente por trás, está um pouco mais atrás e mais atrás - mas está lá. Garanto que está.
JTM - Mas donde lhe vem essa desconfiança?
JS - Da história, da realidade, dos factos. Não lhe parece que vivemos numa sociedade altamente manipulada?
JTM - Eu acho que sim e que um espaço de liberdade é precisamente a complexidade dos textos fundadores, entre os quais se conta a Bíblia, que é um manifesto contra esta sociedade da manipulação.
JS - Mas ajudou muito.
JTM - As ajudas podem ser involuntárias. Não podemos culpar a Bíblia das leituras erróneas.
JS - Mas que ideia é a vossa de que eu culpo a Bíblia!?
JTM - São palavras suas! Voltou a ler as palavras que disse em Penafiel?
JS - Eu tenho um livro na mão, e é um livro cheio de violência, de carnificinas, incestos. Um manual de...
JTM - Mas toda a literatura é isso. Podemos dizer isso das obras completas de Shakespeare, ou das obras completas de Saramago.
JS - E o que é que eu resolvo com essa justificação?
JTM - A vida é literatura e a Bíblia usa aquilo que é próprio da literatura para fazer uma leitura crente da condição humana. Porque poucos lugares há, para além da literatura, capazes de espelhar a condição humana na sua inteireza. A Bíblia não é um código de direito, nem um livro de lógica.
JS - Mas foi-o. E sem esquecer o Deuterónimo!
JTM - Eu não percebo esse seu... Há um poema da Adília Lopes que dia que "a literatura não é um ajuste de contas, é um ajuste de cantos".
JS - Desculpe: esse verso é muito interessante, mas é um simples jogo de palavras.
JTM - Acha que a poesia é um simples jogo de palavras?
JS - Não torça aquilo que eu disse.
JTM - Estes versos são só um jogo de palavras?
JS - Não lhe permito que tire essa conclusão. O dístico que acabou de citar é um jogo de palavras. Que nós, escritores, fazemos muito, e muitas vezes com a má consciência de que não significa grande coisa, mas que soa bem e é bonito. Há pouco, disse que Deus está do lado da vítima. Efectivamente, Abel é uma vítima do irmão. E Caim, não é vítima de ninguém?
JTM - Todos somos vítimas.
JS - Que nós, simples humanos, sejamos vítimas e carrascos uns dos outros, muito bem. Agora, que Caim seja vítima de Deus, não há lógica no mundo, nem exegese, que o justifique.
JTM - Porque diz que Caim é vítima de Deus e não compreende que é uma leitura sapiencial que o livro do Génesis faz?
JS - O que é isso de uma leitura sapiencial?
JTM - A Bíblia é um teatro de Deus, uma reflexão sobre Deus.
JS - Um teatro de Deus? O que é que vocês sabem de Deus?
JTM - Nós sabemos de Deus o que Jesus de Nazaré nos revelou acerca de Deus!
JS - Não misturemos alhos com bugalhos. Não vale a pena! Repare nisto: antes da criação do universo, Deus, que se saiba, não fez nada. Não consta. Chegou um momento em que, não se sabe nem porquê nem para quê, decide formar o universo.
JTM - O mistério aflige-o sempre...
JS - Limito-me a verificar. Construiu um universo. Coisa que, durante muito tempo, pareceu relativamente fácil, mas a partir de Darwin já não é tão fácil - e com as novas descobertas científicas... Depois, ao sétimo dia, descansou e continuou a descansar até hoje - não teve mais participação.
JTM - Não é a opinião de milhões de seres humanos ao longo de gerações. Porque não é sensível à experiência que os outros vivem?
JS - Não! Eu, às vezes, digo que deus e o diabo só têm um lugar onde habitar: é na cabeça humana. Não há outro lugar em parte nenhuma do universo onde eles possam estar. Estão na nossa cabeça. Até mesmo na minha cabeça.
JTM - Essa é uma visão sua.
JS - Minha?
JTM - O que é estranho é o seu desejo de excluir a Bíblia, de fazer de contas que ela não existe.
JS - Como pode dizer isso a mim, que escrevi o "Evangelho Segundo Jesus Cristo" e, agora, o "Caim"? Eu sou aquele que diz que, embora seja ateu, estou empapado de valores cristãos.
JTM - Isso é muito bonito - e verdadeiro!
JS - Já o disse e repito-o em qualquer lugar. Mas isso não me impede de fazer juízos críticos sobre a religião.
JTM - No entanto, as suas entrevistas redundam facilmente numa caricatura. O que choca, por vezes, na sua linguagem, é o lado caricatural.
JS - Perdão: vocês merecem, tal como qualquer instituição, serem caricaturados. Vocês não estão acima da caricatura.
JTM - Nós não estamos, nem o José Saramago está.
JS - De acordo.
JTM - Mas é que, hoje, você tem muito mais força...
JS - Que a Igreja Católica?
JTM - Não! Isso não sei se é a sua ambição - mas não é a realidade. É preciso ver que a sua palavra tem uma responsabilidade social e civilizacional.
JS - Assumo-o totalmente.
JTM - Quando um homem de cultura diz que a Bíblia é um livro de crueldade, penso que isto, em termos civilizacionais, é um erro.
JS - É a sua opinião, não é a minha.
JTM - É um erro porque põe em xeque algumas das obras mais belas e extraordinárias que a nossa tradição cultural nos legou.
JS - Escute uma coisa: eu nunca neguei que a Bíblia é tudo isso que se diz dela. Claro que é.
JTM - Então diga alguma coisa bela da Bíblia. Fale com o coração!
JS - É quase uma simples questão estatística: milhões de exemplares da Bíblia lidos, estudados, aprendidos, decorados, em todo o mundo.
JTM - Ainda esta semana saiu mais uma tradução da Bíblia para português.
JS - Já tínhamos tantas! Porquê mais uma?
JTM - Dizer isso não parece uma coisa digna de si.
JS - Estou na brincadeira, homem!
JTM - Pois é! Está a ver? É que diz as coisas em tom jocoso, mas elas têm um alcance que não é justo. Você não pode dizer isso!
JS - O que me valeu foi ter escrito este livro donde a jocosidade não está ausente. Já o leu até ao fim?
JTM - Evidentemente que sim.
JS - Até ao dilúvio?
JTM - Até ao dilúvio e até a uma frase terrível com que o livro acaba, que é talvez uma das frases mais terríveis da literatura portuguesa: "A história acabou, não haverá nada mais que contar". Dá muito que pensar deste fecho definitivo da história. O exercício que faz, em si, é mais que legítimo. Mas a grande questão é que aquilo que diz, muitas vezes, é marcado por um exercício de intolerância.
JS - Eu, intolerante? Eu?
JTM - Todos podemos ser intolerantes. O José Saramago porque não pode ser intolerante? Todos podemos ser e todos certamente o somos.
JS - Se lhe quiser chamar radicalismo, aceito. Mas não intolerância. Não sou intolerante.
JTM - Aquelas declarações de Penafiel são declarações de intolerância.
JS - Não são nada!
JTM - Diz o José Saramago. É um manifesto de intolerância do ponto de vista cívico.
JS - Não é certo que o livro está cheio de crueldades? Que não lhe faltam incestos? Que tem isso e muito mais, e carnificinas de todo o tipo?
JTM - E acha que a Bíblia é só isso? Acha que descrevendo isso se descreve o que é a Bíblia? Acha que esquecendo tudo aquilo que a Bíblia é, que é também a sua natureza de milagre, está a ser tolerante? De que parábola é que gosta mais, das que Jesus contou?
JS - Talvez a do semeador. A semente que cai na pedra...
JTM - A Simone Weil dizia que entre dois homens que estão a discutir, um que crê e outro que não crê, o que não crê está mais perto de Deus do que aquele que crê.
JS - Oh diabo! Oh diabo!
JTM - Por isso é que o discurso cristão nunca pode ser um discurso de exclusão. Dizer que o cristianismo é sobretudo uma aventura de liberdade é para levar muito a sério. Ver o cristianismo do ponto de vista do poder, da força, da imposição, é um olhar possível, mas não faz justiça à radicalidade humana que o cristianismo foi semeando. Se quisermos fazer justiça à história, temos que perceber que o cristianismo está do lado dos heterodoxos, dos insubmissos, dos mártires, das vítimas, daqueles que não têm voz.
JS - Mas no que toca a vítimas, o cristianismo contribuiu com uma quota importante, não?
JTM - E chora e arrepende-se de todo o mal que fez.
JS - Desculpe, Tolentino, mas não demos por isso. Aqui, pelo menos, não chegou uma palavra que signifique isso. O que está a dizer são palavras de ouro, mas que provavelmente estão no seu desejo. Você desejaria que assim fosse.
JTM - Há tanta gente a dizer isto!
JS - Meu caro: não me tiram nem sequer um grama ou um átomo da minha raiva contra a instituição chamada igreja católica. Eu não sou nenhum ferrabrás, nem nenhum enviado do demónio. Mas o que merece crítica, pode contar com a minha pessoa. Ao contrário do que diz, eu não sou intolerante. Radical, sim. E a isso não renuncio. É uma atitude muito exigente, moralmente exigente, que me leva a insurgir-me contra o que não me parece bem.
JTM - Eu não digo que o José Saramago é intolerante. Digo que as suas palavras de domingo foram intolerantes, o que é uma coisa diferente. Ninguém está imune à intolerância. Talvez os momentos mais difíceis do cristianismo tenham sido aqueles em que, fechados em nós próprios, achámos que temos a razão, ou que não errámos, ou que estamos costurados no interior de uma certeza. Há palavras nossas que iluminam e outras que enegrecem. A sua postura ética, atitude moral, a sua intransigência, enobrece-nos a todos. É bom que um escritor seja exigente. Isto não significa que nas palavras que proferiu nós não víssemos uma limitação muito grande. E na forma como o seu romance está construído, há também zonas de ambiguidade, a começar pelo "livro dos disparates". A Bíblia é um grande património da humanidade, é um lugar onde todos nos encontramos. Pela primeira vez, todas as componentes da sociedade estão presentes numa grande narrativa literária, porque precisamente a Bíblia não exclui. A Bíblia é um coral de vozes humanas. E por isso é tão importante o papel de Caim - ele é o nosso irmão...
JS - Disse que é um coral, mas, sem querer ser frívolo - que não está nada na minha natureza, porque tomo tudo a sério -, com muitas desafinações.
JTM - Mas as desafinações fazem parte da história humana. É preciso amar a imperfeição!
JS - Não escrevi um livro sobre a Bíblia. Escrevi a partir de um episódio bíblico e construí uma história. Caim não foi um capricho de há uns meses, é algo que sempre me preocupou. A mim, a Bíblia permitiu-me escrever o que não estava dito - embora não tenha sido a primeira pessoa a fazê-lo.
JTM - Dizer isso é fazer um elogio extraordinário à Bíblia.
JS - Para terminar: escrevi, penso, alguns bons livros. No meu estado de espírito presente, considero este o meu melhor livro.
JTM - Tenho a humildade de não concordar. No conjunto da sua obra, este é um exercício, a par dos seus grandes livros.
JS - De exercício não tem nada, meu caro. Tire lá esses óculos e ponha outros, e leia-o como deve ser lido.
JTM - Li o livro com muita atenção e hei-de voltar a ele. Mas é uma narrativa que não tem a grande complexidade nem a invenção romanesca de outros romances. Mas percebo que esteja tremendamente ligado a este livro.
JS - Assim é. Dois homens de boa fé sempre se podem entender.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

terça-feira, 6 de outubro de 2009

sábado, 3 de outubro de 2009

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Crismas em Sambade e Vilar Chão

Foi no passado dia 27 de Setembro de 2009, nas Igrejas de Sambade e Vilar Chão foram confirmados cerca de 50 jovens (Sambade, Vilar Chão, Parada, Sendim e Vila Nova) pelo bispo diocesano D. António Moreira.
Ambas as Igrejas se encheram de fiéis para participar na eucaristia, tendo esta sido solenizada pelos coros de ambas as paróquias sendo que ao órgão esteve Tadeu Filipe e sob a regência de Maria Helena.
Estão de parabéns todos os que receberam os dons do Espírito Santo.
Abaixo seguem as fotos das celebrações.

Crismas em Sambade e Vilar Chão











Crismas em Sambad e Vilar Chão




Crismas em Sambade e Vilar Chão
















Crismas em Sambade e Vilar Chão
















Crismas em Sambade e Vilar Chão







Crismas em Sambade e Vilar Chão
















Crismas em Sambad e Vilar Chão







quarta-feira, 16 de setembro de 2009

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Novo ano em Setembro

Para muitos de nós, Setembro é um mês de recomeço. Acabaram as férias e voltamos à rotina do resto do ano. Para uns, com entusiasmo e desejo de retomar aquilo que gosta de fazer e de rever amigos. Para outros, a expectativa de um ano diferente, com pessoas novas e novos desafios. Para outros ainda, a perspectiva é não mais do que voltar ao cansaço da rotina. Mas não é assim para toda a gente… ou melhor, nem sempre foi esta a sensação dominante. Para muita gente, Setembro é o mês das vindimas (se calhar há uns anos era-o para uma parte mais representativa da população). Eu não me acho "do antigamente" mas, como estudei agronomia, talvez esteja mais atento a esta particularidade de Setembro. Vindimas equivale a muito trabalho, é verdade. Mas é trabalho feito no meio de festa. É quase o fim de um ciclo. Depois dos dias frios e chuvosos de Inverno em que se começou a podar a vinha, depois de a cavar e fertilizar e, com tempo mais quente, a tratar contra as doenças, chegou a altura de finalmente apanhar os frutos pelos quais se investiu tanto tempo e esforço. Em todo este investimento, houve um risco sempre presente – uma trovoada, granizo, ou chuva em alturas sensíveis podem comprometer todo o resultado final. Mas a vindima já é um investimento diferente, pois o fruto já está à vista. Por isso é que é tempo de festa – vindima-se com alegria, com amigos, convidam-se os vizinhos, come-se e bebe-se bem.Dizia que é quase o fim de um ciclo porque depois das uvas colhidas ainda falta extrair o seu sumo e fermentá-lo. É com razão que diz o ditado que até ao lavar dos cestos é vindima. Só depois de tudo isto é que nos podemos regalar a beber e a saborear o resultado de tanto trabalho ao longo de um ano inteiro. Só conhecendo o que está por trás é que percebemos que toda a gente que faça o seu próprio vinho tenha tanto gosto em bebê-lo e em oferecê-lo aos amigos. E estes, se compreendem tudo o que está por trás, têm um enorme gosto em prová-lo, mesmo que seja uma verdadeira zurrapa aos olhos dos “entendidos”. Mas quando se trata de dar valor ao trabalho, estes “entendidos” não entendem nada! Cada vez menos gente está por dentro desta realidade, mas escrevo este editorial como um desafio a que encaremos o trabalho que agora recomeçamos como parte de um ciclo como o do vinho. Às vezes é um investimento muito arriscado, outras vezes com os frutos já à vista. Umas vezes é um trabalho duro e solitário, outras vezes no meio de festa com os amigos. Há quem perceba o que está por trás dele e lhe dê valor, há quem não entenda nada do que fazemos. O importante é que cada um de nós saiba por que é que trabalha. É este o significado do vinho que utilizamos na missa. É o fruto do trabalho de todos nós. E é isso que, por um lado agradecemos a Deus, e por outro, Lhe oferecemos. E assim como ninguém faz vinho para o beber sozinho, que também ninguém trabalhe unicamente para o seu bem, mas para o bem de todos.
Frederico Lemos

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Obrigado Zé Nuno

Dar alma à saúde
José Nuno é o coordenador nacional das capelanias hospitalares.
O hospital é o meu lugar. Vivi aqui sete anos, algumas semanas a tempo inteiro, sem sair. Acabei por ter problemas de saúde e fui aconselhado a residir fora, mas este continua a ser o meu lugar.
Vim cheio de medo. Trabalhava com jovens. Isto foi uma reviravolta. Aqui, as relações são intensas e percebe-se a relatividade de tudo. Tornei-me mais compassivo com quem sofre e mais exigente com quem não cumpre, adepto feroz da felicidade.
O ecumenismo no hospital é fundamental. Cheguei há dez anos e organizamos celebra­ções ecuménicas há nove. Num país de maioria católica, passar por uma experiência destas numa casa colonizada pela Igreja dominante é um exílio ainda maior.
A importância da espiritualidade na saúde é um dado adquirido. Apoiar as pessoas doentes é a primeira função de um capelão, mas não é a única. Ser capelão é ter a possibilidade de intervir na cultura de uma casa que não pode perder a consciência da sua finalidade, que é servir as pessoas na sua integridade. Este também é um lugar de esperança.
Agnus Dei ou a ovelha Dolly foi o tema que escolhi para a minha tese porque queria abordar o confronto entre o amor transcendente e o poder tecnológico. Mas a experiência no São João conduziu-me noutra direcção. Em vez da tese de doutor acabei por fazer um trabalho de pastor. Estudei a transferência da morte. Concluí que mais de 60% das pessoas já morre no hospital. Interessei-me pela bioética porque tinha de entender a linguagem deste meio.
Assino só o meu nome de baptismo. Foi esse o momento decisivo da minha vida. Nasci em 1964, em Gondomar, numa família católica. Desde cedo tive problemas de sofrimento graves. Tenho uma patologia de coluna complicada.
Não sei porque quis ser padre. Sei porque me ordenei e porque continuo padre. Sou padre por amor e sou padre para amar.
Estava em Boston no 11 de Setembro. Vi em directo a retirada do corpo do capelão dos bombeiros de Nova Iorque dos escombros pelos seus homens. Entrou nas Torres Gémeas porque havia bombeiros a morrer lá dentro e queria acompanhá-los. Isto define o que é ser capelão.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Porquê ir à Missa?

Ir à missa é verdadeiramente uma obrigação para se ser um bom cristão?Há sem dúvida pessoas muito santas que não vão à Igreja! Ir à missa não tem nada a ver com uma obrigação jurídica, como pagar anualmente os impostos ou como a proibição de conduzir a mais de 120 km/h... Para mim, ir à missa é uma obrigação no sentido em que fazer parte da comunidade de Jesus faz parte da minha identidade. Você é obrigada a festejar o aniversário da sua mãe? Não, mas foi a sua mãe que lhe deu a vida: festejar o seu aniversário é como uma obrigação natural... Quando se toma consciência do sentido da Eucaristia, surge naturalmente o desejo de participar.
Porquê ir à igreja quando se pode rezar em casa?É verdade, pode ter-se uma relação pessoal com Deus. No entanto, somos convidados a entrar na amizade de Jesus. Ora, partilhar esta amizade implica partilhar os seus amigos. Seria absurdo querer viver uma espiritualidade cristã ignorando os outros cristãos. Seria a mesma coisa que querer jogar futebol sozinho. Por outro lado, sair de casa não é um acto inócuo. Ir à igreja, deslocar-se, lembra-nos que somos peregrinos e que a nossa morada final está em Deus.
Não é mais importante ser crente do que ser praticante?Não desejo fazer-me juiz desse género de afirmação. Essa maneira de ver parece-me muito típica de uma sociedade que tem uma ideia demasiado individualista da pessoa humana. Ser cristão é crer que sou convidado a ser membro da comunidade de Jesus. Na Eucaristia, Jesus dá-nos o seu corpo. Para mim, seria um pouco estranho dizer: “Acredito em Ti mas não, obrigado, não quero receber o teu Corpo”.
“Eucaristia” significa “agradecer”, “acção de graças”, “obrigado”. Obrigado por quê?Obrigado por tudo! Obrigado pelo dom da existência; eu existo, os seus filhos existem. Tudo é dado a cada instante. As pessoas que trabalham no campo compreendem-no muito melhor. Em casa dos meus pais, comi sempre legumes da horta: é uma grande bênção. Toma-se consciência de que é um dom! E o dom maior é o próprio Deus que se dá. Na nossa sociedade, perdeu-se muito este sentido do dom: não somos mais do que consumidores que consumimos “produtos”.
A missa é a melhor maneira de encontrar Deus?Depende de nós e depende de Deus. Pode ser que ele entre nas nossas vidas por um amigo, familiares, um livro... É Deus que toma a iniciativa, cabendo a nós estar atentos aos seus passos e à sua voz. Deus está sempre lá, à nossa frente. A Eucaristia é o reconhecimento de que ele está já presente entre nós; ela é a celebração da sua presença.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O significado do sinal da Cruz

Sinal da Cruz
Benzer-se é confessar o amor de Deus
e empenhar-se a amar como Jesus amou ,
animados pela força do Espírito Santo.
Em nome do Pai.
E colocamos a mão sobre a fronte.
Nesse momento pensamos em Deus,
que é Amor, imenso infinito.
E pedimos-lhe que grave
na nossa inteligência,
o mandamento novo do amor.
Em nome do Filho.
E colocamos a mão sobre o coração.
Nesse momento pensamos em Jesus
que passou pelo mundo a amar.
E pedimos-lhe que grave
no nosso coração,
o mandamento novo do amor.
Em nome do Espírito Santo.
E a mão vai de um ombro ao outro.
Nesse momento pensamos no Espírito Santo
que é a nossa luz e fortaleza.
E pedimos-lhe que grave
nos nossos membros,
o mandamento novo do amor,

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Concerto Coro Rebordosa - Festas de Sambade 2009

Fundado em 1996, o Coro de rebordosa é constituido por 40 elementos, que cantam emvárias paróquias do Porto. Este coro paroquial foi criado para cantar nas missas solenes dos vários tempos litúrgicos. Desde a sua fundação tem actuado em várias ocasiões: encontro de orfeões em Valadares, Missas - Sé - Porto, Ramalde, Sé Viseu, Balazar, Sé Coimbra, Caminha e encontro de coros da Diocese do Porto. É seu director musical Alberto Moreira.
A Igreja Matriz de Sambade mais uma vez se "compôs" para ouvir e apreciar melodias de vários tempos. Eis o programa:
Espítiro del Signore - Frei Carlo Barluti
Correi Pastorinhos - Tradicional Portuguesa
Bendicat Vobis - Haendel
In Monte Oliveti - Giovani Croce
Adoremus te Criste - P. Rosseli
Velum Templi - M. Cardoso
Ditosos os que te louvam sempre - F. Santos
Signore delle Cime - G. De Marzi
O Senhor é Bom - Azevedo Oliveira
Avé Maria - Arcadelt
Jesus Cristo ontem, hoje e sempre

Concerto Coro Rebordosa V - festa Sambade 2009 V
















Concerto coro Rebordosa - Festa Sambade 2009 IV
















Concerto Coro Rebordosa - festas Sambade 2009 III
















Concerto Coro Rebordosa II