quarta-feira, 18 de março de 2009


O liturgista José Cordeiro defendeu, em Viana do
Castelo, a urgência e necessidade
de «encontrar a raiz baptismal
da penitência e a relação
com a eucaristia e com a
santa unção, bem como a sua
relação com o mistério do pecado
e do perdão».
Intervindo no XXXI Encontro
Diocesano de Pastoral Litúrgica
dedicado ao sacramento
da Reconciliação, o reitor
do Colégio Português de
Roma frisou ainda a necessidade
de uma «pastoral» que
acentue a «conversão do coração
» para que a participação
e a vida dos cristãos seja
mais verdadeira.
Numa abordagem à “história
da celebração da Penitência
e Reconciliação”, aquele sacerdote
referiu que este olhar o
passado, focalizado nos «momentos
mais salientes» divididos
em três grandes etapas,
permite «olhar o presente
com serenidade e confiança
» mesmo se os ventos não
são favoráveis à celebração do
sacramento, fruto de um conjunto
de paradoxos da nossa
época.
O director da Faculdade de
Teologia de Braga, João Duque,
abordou, na primeira conferência
do Encontro, que em
Darque reúne cerca de meio
milhar de fiéis vianenses, alguns
paradoxos da cultura
actual a começar pelo «complexo
da desculpa». Este complexo,
que não é novo, procura
encontrar justificações para
tudo aquilo que fazemos «desdramatizando
», sobretudo, os
seus efeitos. Esta «via da desculpa
» atribui a razão do que
se faz a «circunstâncias ou herança
» e assim se dita o «fim
do sujeito» livre e responsável.
Ora esta via, «sem consciência
de culpa», não exige perdão.
Contudo, constata, vivemos
uma época obcecada pela «diferença
do indivíduo», atitude
que pode ser lida como «nostalgia
» da liberdade e identidade
pessoal.
Outro traço deste «complexo
» contemporâneo é a pretensa
«capacidade [cada um
por si só] de corrigir» o mal
feito sob pena de não ser capaz
de recuperar a dignidade
pessoal. João Duque, ironicamente,
sublinhou que por esta
via até a morte vai passar ao
lado e se assim não acontecer
é porque erramos em qualquer
momento.
O drama desta situação, explicou,
é que «sem capacidade
de acolhimento de algo gratuito
», na medida em que tudo
está concentrado exclusivamente
na força individual, «não
chegamos ao perdão».
O paradoxo desta cultura
centrada na conquista é estar
“vidrada” no fascínio do «gratuito
», daí toda ênfase na troca
de prendas.
Esta focalização no indivíduo
e na capacidade de solucionar
sozinho o problema, fecha a
pessoa às «mediações», particularmente,
àquelas institucionais,
por isso na da estranho
aquele “confesso-me a Deus”.
Por outro lado, exista a questão
da «liberdade do receber»
no sentido da «filiação».
Cada um de nós, sublinhou,
é o que é porque «permanentemente
perdoado» numa dádiva
completamente gratuita
do Pai.
O padre José Cordeiro fez
ainda uma intervenção onde
abordou a “celebração da Penitência
e da Reconciliação,
hoje”.
Acentuando a necessidade
de evidenciar a «conversão do
coração» para uma «mudança
do agir» por pertença ao Corpo
de Cristo, o conferencista
apresentou as possibilidades
que o ritual deste sacramento
permite.
Contudo, chamou atenção
para o perigo de o olhar como
um «acto ritual isolado» pelo
qual se derrama a graça do perdão
ou de o considerar apenas
na sua vertente de «acusação
dos pecados e absolvição
» sem consequências práticas
em termos pessoais e comunitários.
O Encontro de Liturgia termina
esta tarde com a celebração
Eucarística presidida
por D. José Pedreira. Antes, durante
a manhã, o jesuíta Dário
Pedroso abordas as possíveis
“causas” para a crise que graça
neste sacramento e, já depois
do almoço, o Bispo Auxiliar de
Braga, D. António Couto, aborda
a questão do significado bíblico
da Reconciliação.

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